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O Diário de Aaron Collins

       Sexta-feira, 13 de novembro de 1987, Green Valley – Las Vegas (Nevada)

 

         Oi, sou Aaron Collins, tenho oito anos de idade e hoje é um dia como qualquer outro em minha casa. Mamãe pede para Joana agilizar o jantar, enquanto papai resolve os últimos negócios do dia na empresa.

          Meus pais são as pessoas que eu mais admiro. Taylor Collins e Cassandra Collins. Meu pai, empresário, alto, cabelos castanhos e olhos negros, corpo aprumado, sério, às vezes misterioso, porém de vez em quando me lançava um olhar de ternura. Mamãe era a mulher mais linda que eu já vi na vida, alta, cabelos loiros meio esbranquiçados com mechas, olhos castanho-esverdeados, boca rosada e atenciosa como ninguém.

        Papai sentou à mesa com cara de cansado, mas parecia estar feliz. Ele disse a mamãe que havia conseguido fechar um negócio e poderia melhorar ainda mais nossa situação financeira. Eu não entendia muito o que era isso, sei que eles saíram rápido da mesa, disseram que iam comemorar.

        Eu fui deitar após ler um conto típico de sexta-feira 13. Mamãe não gostava que eu lesse esse tipo de coisa, mas hoje, eu deixei de obedecê-la.

       Acordei com barulhos de vozes, parecia televisão ligada, com volume muito alto. Levantei com medo. A história que eu tinha lido me deixou com mais medo ainda. Meus passos eram leves, devagar, o piso estava frio. Entrei no quarto dos meus pais, talvez lá eles me acalmassem, pois estavam comemorando.

        A luz estava apagada, porém a penumbra da lua cheia misturada com as luzes da televisão, iluminavam o espaço. Não vi papai. As portas do guarda-roupa estavam escancaradas, e mamãe estava deitada de lado na cama.

         Sentia um cheiro forte, igual o cheiro do sangue que saía do machucado que fiz em quanto aprendia andar de bicicleta.

         A cama estava manchada de vermelho, pensei que fosse mais um daqueles vinhos caros que papai comprava. Fui acordar mamãe, queria um cafuné após contar sobre o medo que eu senti quando li aquele conto, mesmo sabendo que ela brigaria comigo depois por desobedecê-la.

         Subi na cama e cutuquei-a, ela não se movia. Chamei-a pelo nome e nada. Eita mamãe, cheia de brincadeiras. Mas eu continuava com medo e ela não me respondia. Puxei-a pelo braço, virando-a de barriga para cima. Mamãe fez a pior pegadinha de sexta-feira 13 da minha vida.

        Fui até o quarto de Joana no andar de baixo chamá-la para me ajudar a acordar mamãe, com muito medo. Precisava da atenção de minha mãe. Cutuquei Joana e disse-lhe que não estava conseguindo acordar mamãe. Levei-a até o quarto e assim que ela olhou lá dentro soltou um grito de desespero e mandou-me voltar ao meu quarto, enquanto ela pegava o telefone.

         Eu voltei para meu quarto sem saber o que estava acontecendo, o grito de Joana continuava a soar em meus ouvidos. Naquele momento me senti um rato, não mais um homem que papai me fazia sentir. Comecei a chorar e me escondi embaixo da coberta. Peguei o meu ursinho na mão e sentei-me no parapeito da janela, o vento frio batia em meu rosto e fazia o meu pijama de aviõezinhos não ser quente o suficiente. Notei uma mancha de sangue em meu ursinho quando abracei-o, imaginei que tivesse saído do corpo de minha mãe.

       Ouvi contínuos barulhos de sirene de polícia ao longe se aproximarem. Deitei-me na cama, cobri minha cabeça e fiquei acordado por longos minutos, que chegaram a parecer horas. Adormeci.

        

 

         

Por Ana Lívia Toniazzo, Elenn Leite, Vinícius  e Julliane Cristina de Brida 

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