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        Quarta-feira, 13 de abril de 2016, Cassino Belaggio – Las Vegas (Nevada)

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        A música alta fazia minha cabeça doer. A fumaça perfumada enchia meus pulmões e me dava vontade de vomitar, pois  era doce. As pessoas gritavam, apostavam, eu via homens velhos agarrados à mulheres jovens em seus vestidos justos e vermelhos, como se aquilo fosse um uniforme para prostituírem-se no Belaggio.

Sentado ao bar, procurava com os olhos alguém que me agradasse, mas não encontrei, não de primeira. Foi então que ela passou pela porta, era tão parecida com a minha mãe que era quase impossível distingui-las uma da outra, pois tinham até mesmo a pintinha próxima ao nariz. Seria ela. Era só esperá-la se embebedar e eu a seduziria até o estacionamento, pegaria o punhal que eu tenho no meu sapato (um modelo que vem com uma espécie de bainha na sola, e que os seguranças não desconfiaram, pois eu disse que deveria ser a fivela).

       Algumas horas se passaram e ela já estava tonta, então eu fui falar com ela, que caiu feito um patinho na minha lábia.

          Levei-a até o estacionamento subterrâneo, tirei a lâmina do meu sapato e coloquei-a por baixo da manga do blazer e peguei-a pela cintura. Ela arfou e depois riu. Mordeu o lóbulo da minha orelha e beijou-me.  Sua boca era quente e macia. Coloquei a mão em sua nuca e a deslizei até o pescoço. Aquele momento já não me interessava a maneira de matar, e sim, matar. A sufoquei e vi seus olhos rodando para trás, e sua língua começando a pender do canto do lábio. Eu não podia me sujar com o sangue dela, pois se me vissem sujo de sangue, não me deixariam sair. Eu soltei-a no chão e então fiz o ferimento com a faca, dane-se se o ferimento era post-mortem, eu só precisava refazer a maldita cena que mudou a minha vida. Fui embora.

       Olhei a minha mão e vi um corte. Droga. Meu sangue havia pingado no chão e eu estava extremamente encrencado. Imagine se a polícia acha meu sangue (e certamente acharia)...

 

        Quarta-Feira, 13 de abril de 2016, Green Valley – Las Vegas (Nevada)

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     Estou em casa. Um blues toca na vitrola (uma das poucas coisas que mantive da decoração da casa), provavelmente é Sweet Home Chicago, e enquanto escuto essa obra prima da música escrevo em ti.

Fui demitido. Pois é, segundo ele um médico não pode faltar seu plantão, pois eu precisava estar lá para o caso de acontecer algum acidente e não termos médicos o suficiente. Eu sou naturalmente rico, então não preciso daquele emprego em que eu não faço o que gosto. Agora eu vou dormir, já é madrugada.

 

    Quinta-Feira, 14 de abril de 2016, Delegacia de Homicídios – Las Vegas (Nevada)

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          Bom, muita coisa aconteceu desde a noite de ontem.

      Fui preso no início da tarde. A polícia arrombou a porta e entrou gritando para mim. Uma mulher fez questão de me algemar, um daqueles animais, uma loirinha nojenta com olhos claros. Eu queria cuspir em sua face, eu sinto raiva, eu quero matá-la também, essa vadia não tinha o direito de tocar em mim. Não tinha.

Logo, logo eles tirarão você de mim, levando em conta que foi em ti que escrevi a ficha de cada uma das minhas vítimas e como as matei. Foi bom enquanto durou, mas agora vou, provavelmente, para a prisão, basta o juiz decretar. Adeus.

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