
Quarta-Feira, 13 de abril de 2016, Cinnamon N’ Sugar Strip Bar – Las Vegas (Nevada)
Que clichê. Ela se vestia de coelhinha, mas pra mim parecia que ninguém nunca tinha se vestido daquele jeito. Não sei. Havia algo diferente nela, talvez não só a cor dos cabelos ou da pele, ou até dos olhos. Algo nela fez-me sentir diferente. Olhá-la suscitou-me a vontade de redimir-me de todos meus pecados. Seus movimentos eram vezes leves, vezes bruscos, dependia de como a música soava. Ela parecia flutuar.
Aproximei-me, conseguia perceber pelo movimento de seus ombros que sua respiração estava ofegante, forçada. As gotas de suor escorriam de sua nuca e molhavam sua tatuagem com formato de dente-de-leão, meio desintegrado, com algumas sementes voando. Ela era tão linda. Estranho, eu sei. Mas não estava fácil controlar. Quando a olhava não me vinha à tona o desejo de matar.
Sua performance acabou. Tentei ao máximo não comportar-me como adolescente, mas estava complicado largar minhas inseguranças de lado. Pois quando se quer matar alguém, não precisa causar boa impressão, mas eu sabia que pra chegar a uma mulher com outras intenções, eu não podia parecer um menininho assustado.
Aproximei-me mais ainda, e meu “olá” saiu tão fino que nem parecia a voz de um homem. Ela sorriu de canto de lábio, e notou meu olhar passeando por seu corpo ainda despido, mas eu não podia controlar, era mais forte que eu. Sua pele morena brilhava em tons coloridos por causa das luzes do ambiente, e seu perfume era doce. Meu Deus, eu poderia passar horas descrevendo-a.
Ela respondeu meu cumprimento, e até sua voz era macia, como sua pele. Puxei-a até o canto mais reservado do lugar. Sentia confiança em relação a ela. Eu sei, nos conhecemos só fazem cerca de meia hora, mas alguém como ela, que parecia ter a vida tão bagunçada quanto a minha, iria me entender.
“Eu te vi assim que você passou pela porta, e a cada movimento que eu fazia, eu te olhava, temendo perder você de vista. Pelo amor de Deus, quem é você?” Disse-me ela.
Eu não consegui me segurar, e sem pensar duas vezes, comecei a lhe contar sobre os crimes que cometi, e seu olhar parecia tão envolvente e interessado que só me fazia ter vontade de continuar. Eu não sei porquê estava fazendo aquilo, mas estava. Ela me parecia a cúmplice perfeita. Morte, disse ela que a morte a fascinava, talvez até mais do que a vida. Imaginei juntos por aí, matando mulheres. Não percebi, mas pensei alto. Na hora ela me respondeu que sim, e que havia uma garota no local que se encaixava nas características que eu, ou melhor, que nós procurávamos.
Nesse momento, estamos fugindo de Las Vegas, numa velha camionete azul, que no caso era o único bem material que ela possuía. São três horas da madrugada, olho pelo retrovisor e vejo a menina que matamos, ela está sentada e com os olhos abertos no banco de trás. Pelo para-brisa vejo a estrada reta e mal sinalizada, escura, apenas a lua cheia iluminava o interior do carro, que me fazia lembrar o dia em que minha mãe morreu. Farol em luz alta, a mulher perfeita ao meu lado, e Sex & Candy, do Marcy Playground tocando no último.
Este foi certamente o melhor presente de aniversário de todos.
